domingo, 5 de novembro de 2017

NATAL VEM, NATAL VAI.

Tio Maneco e Otávio, foliões de outros tempos (Arquivo Ubatuba Histórica)

               Para falar do Natal atual, preciso falar dos vividos em outros tempos, quando ainda vivia na praia do Sapê. Ao se aproximar o tempo litúrgico do Advento, vovó Martinha, Maria Balio, Livina, Ana Cruz e outras mulheres da comunidade se embrenhavam na restinga, na Queimada, em busca de musgo em diversos tons, de pequenas plantas e de cascas de cigarras para compor o presépio da capela, vizinha da venda do João Pimenta, o “Incréu”, onde hoje se chama Largo do Sapê.
               O presépio era a atração de todas as crianças. Nós ficávamos olhando os bois e carneiros arrumados próximos da manjedoura, cuja cobertura de sapê era um capricho do tio Chico. Naquele tempo eu acreditava que os bichos também recebiam presentes. Afinal, eles ficavam ali paradinhos, contemplando o Menino Jesus por mais de mês. Só sei que a gente sempre recebia algum agrado nessa época do ano. Ah! Também tinha vinho! Nunca soube se era vinho suave ou seco, mas sempre ficava  bem doce, quase melaço, porque mamãe sempre teve o hábito  de adoçar vinho.
               Tempo de Advento era tempo de Folia. A cada noite deveríamos ficar atentos, pois um grupo de cantadores andava a correr as casas cantando a história de Jesus. Na escuridão, sem nenhuma lamparina acesa, da tarimba mesmo eu escutava atentamente cada verso. E como eu admirava a narrativa da aventura de Jesus ao escutar que “bem podia ter nascido em colchão de ouro fino, mas para dar exemplo ao mundo, nasceu pobre o Deus-menino”! Pensava: tal como nós esse Jesus! Só faltava aparecer no dia 25 de dezembro, esganado para comer a macarronada e tomar do vinho adocicado pela mamãe! Ah! E também era capaz de avançar no nosso omelete reforçado com farinha de mandioca! Um pouquinho de tudo... Como não era muito, a gente escutava da mamãe: “Façam regar porque tem de dar pra todo mundo”.

               Natal de hoje tem muitas coisas, mas não era o tudo daquele tempo.

2 comentários:

  1. Tio Maneco!! Saudades do meu Tio-avô, festeiro, alegre, sempre sorridente e presente na tradição caiçara!! Rabecas que o digam!!

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