terça-feira, 24 de maio de 2016

SENHOR IGAWA CORAJOSO, NÉ?

Vamos ver se em Ubatuba tem peixe mesmo! (Arquivo Igawa)

               Em 1980, durante o Censo Demográfico, eu pude adentrar à “salga do japonês”. Era assim que empresa Iwashi Igawa era chamada por muitos caiçaras. Na verdade, os caiçaras se espantaram quando o Sr. Igawa adquiriu a propriedade do canto do Acaraú, bem ali na barra. Diziam: “O que ele vai fazer ali, naquele canto, na  morada do sapo?”. Dois locais foram apreciados para o empreendimento: canto do Perequê-açu e canto do Acaraú. O bom senso prevaleceu: perto do cais e mais próximo da rodovia. Difícil foi reunir os três irmãos-proprietários, pois eram idosos e moravam em cidades distintas (Santos, São Paulo e Ribeirão Preto). Venderam a parte que era mais interessante ao negócio e insistiram para que o Sr. Igawa adquirisse o restante, quase 2/3 a mais. Assim, num negócio de ocasião imperdível, a área da salga se encontrou com as terras da família Scongelo, defronte ao mar.

               O Sr. Igawa veio conhecer Ubatuba em 1958 e, no ano seguinte, após a avaliação de uma equipe de especialistas, inclusive com recém-formados pela Universidade de Tókio, a fábrica estava implantada. O palpite do Nelson, filho do Sr. Igawa, é que se envolver com pescados “tá no sangue do japonês, acho que faz parte do código genético”. “A decisão foi mais rápida ainda porque esse pessoal, a convite do meu pai, alugou um barco, indo pescar aqui bem perto, na enseada de Ubatuba. Em pouco mais de meia hora, o barquinho já estava abarrotado de baiacu. Ficaram maravilhados!”.

Depois de muitos anos, me tornei amigo da família Igawa (Nelson, Mary e filhas). Hoje, orgulhosamente apresento a primeira parte do relato deles.

              Suekazu Igawa veio para o Brasil com a família quando tinha cinco anos de idade para uma fazenda de lavoura de café no norte do Paraná. Na adolescência teve ajuda de um professor japonês (Sr. Sunaga) que via para ele um futuro promissor, tanto que quis enviá-lo de volta ao Japão para estudar. Com o advento da segunda guerra mundial esse plano é cancelado. Jovem ainda começa a trabalhar como mascate – logo adquire caminhão próprio (americano, à gasolina, marca International, modelo KB7) com empréstimo do futuro sogro. Começa a levar os grãos de safra do Paraná para São Paulo e no retorno traz querosene, cordas, alpargatas, lonas, ferramentas para agricultura entre outros. Logo monta um armazém no Paraná e outro na zona cerealista de São Paulo para a estocagem de mercadorias (na época não existia ainda o Ceasa). Casa-se e vai morar em São Paulo onde abre um escritório de sua empresa Igawa e Cia no prédio da Bolsa de Cereais na avenida Senador Queiróz.

Investindo em Ubatuba:

Como estava indo muito bem resolveu expandir seus negócios, montando armazém de secos e molhados na cidade de Caraguatatuba e outro no centro de Ubatuba  - Igawa & Cia - no cruzamento das ruas Cel. Domiciano com a Condessa de Vimieiro [atualmente o local pertence à Igreja Presbiteriana, se não me engano]. Foi quando percebeu o potencial da cidade no negócio de pescados. Dizia-se na época que o mar era tão piscoso que se pescava na própria baía sem precisar sair ao longe. Em 1959 compra um grande terreno no canto direito da praia do Itaguá e constrói o primeiro galpão para a salga de peixes. Fecha o comércio em Caraguatatuba e se concentra nos negócios em Ubatuba, onde deixa nas mãos do sr. Irineu Stoppa a parte de administração ( funcionário desde o Paraná, se muda com a família para Ubatuba ). É o Sr. Irineu que conta : “vendia-se de tudo no armazém, a única coisa que encalhou foi um lote de graxa para sapatos – tão importante para aquela terra avermelhada do Paraná, aqui de nada servia !” E na época todo o comércio fechava para almoço, exceto o armazém de secos e molhados. Pouco a pouco os comerciantes ao redor começaram a adotar essa prática.

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