segunda-feira, 1 de outubro de 2012

AS OBRAS DO MAGALHÃES

Era tempo em que se lidava no mar e nos roçados.


                “Ao relembrar dos primeiros empreendedores na praia da Maranduba, não se deve omitir o português Joaquim da Silva Magalhães”. Esta afirmativa é de Leovigildo Félix dos Santos, meu pai.

                Demonstrando interesse no assunto, ele continuou:

                “O Magalhães veio do Rio de Janeiro. Lá ele mexia com laranjais. Aqui ele montou uma serraria para beneficiar caxeta, onde as toras se transformavam em tábuas para tamancos e lápis. Dele era um fordinho (caminhonete) que puxava as toras de caxeta desde a Tabatinga até a Maranduba.
                 Onde era a sua fábrica? Era onde mais tarde virou uma oficina, no começo da estrada da Caçandoca. (Observação: na década de 1990, nesse local, trabalhava como mecânico o Assis, esposo da Nair, filha do Agostinho da Lagoinha). Depois mudou-se para a Praia Dura, onde hoje é a “cabeça da ponte”, bem rente ao mangue da barra.  Impressionante era ver os “rosários de toras de caxeta” virem rio abaixo, desde a Folha Seca, Corcovado e Rio Escuro!

                O Magalhães, casado  com a dona Aurora, teve duas filhas: Marlene e Nair. Esta, segundo diziam, foi secretária do Jânio Quadros. Na época, as duas canoas de voga da Maranduba pertenciam ao empreendedor. Seus nomes? “Aurora” e “Nair”.  Eram canoas lindas!

                A Zilda Giraud, irmã do Biduca, mulher do Arnaldo Félix, que morreu no mar enquanto pescava com o Nequinho Salomão, era a empregada do Magalhães. Cabe ressaltar um detalhe do sinistro: o Nequinho, por muito tempo, foi investigado pela polícia. Afinal, o Arnaldo Félix caiu da borda do barco, foi picotado pela hélice e nem a roupa apareceu. Foi um acidente. O Nequinho, coitado...

                O outro lugar de trabalho era a olaria. Começou de uma sociedade de Magalhães com o Luizinho, de São José dos Campos, que logo desistiu. Naquele tempo quase não havia emprego. Quem não estava nisso, tinha que lidar na roça e no mar.

                Com dez anos eu já trabalhava com a máquina que fazia pressão (vapor) para girar o maquinário todo da olaria. O meu pagamento era de dez mil réis. Sob todas as condições (vento, chuva, sol...) eu cuidava da lenha e do fogo.

                A olaria tinha uma imensa chaminé de tijolos assentados com massa de açúcar, tendo uma base de grossas toras enfiadas terra adentro. O pedreiro dessa maravilha foi o Cesário Blac (ou Blaque), irmão da Maria Blac. Era tio do Élcio; moravam no Canto do Cemitério, ali na praia. Outros que trabalhavam comigo na olaria: Tião Plácido, Jaime, Dito Oliveira, Arcendino e Lúcio, meu irmão.

                Pouco tempo depois, as instalações foram arrendadas para o Elias Salum, um turco. Lembra da finada Chica, do Pernambuco? Ela foi empregada, em São Paulo, do pai do Elias Salum. Foi onde conheceu o Antonio Pernambuco. Depois de casados ainda viveram um tempo em São Paulo. Quando vieram morar na Praia da Fortaleza acho que já tinham alguma criança.

                Era o meu pai, o seu avô Estevan, quem levava a Chica até a Praia Grande do Bonete de canoa. Isso se dava quando ela vinha de férias para visitar os pais que moravam na Fortaleza. Ele não cobrava nada. Era um prazer e uma obrigação. O pai dela, o Lindo Lopes, era parente nosso por parte do vô Fabiano Lopes. É por isso que eu digo que também temos herança no Cedro e na Deserta, no lugar dos Lopes”.

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