sábado, 11 de fevereiro de 2012

Entrevista no Camburi (I)

Pescadores no cerco

           Sobre a técnica de pesca conhecida como cerco eu já escrevi em outra ocasião. Citei desde o cerco do Camburi até o da praia Mansa (da Ponta Aguda), cujo mestre era o Acácio, que escolheu a caiçara Ortênsia como diva. Por ela sofreu e morreu ainda "moço". Em outra ocasião eu digo os detalhes, ou melhor, conto a história deles.
           Voltando ao Camburi, o primeiro morador desta praia do extremo norte do município eu conheci nas andanças pela praia Grande do Bonete, quase no outro extremo. Ele estava atrás de uma canoa para comprar porque o cerco estava precisando de uma. Foi longe, hein!?
           Hoje, iniciarei uma entrevista com o sr. Genésio, o querido seo Genésio do Camburi. Ainda está em processo de digitação, mas irei postando em partes. Boa leitura!



Entrevista com sr. Genésio dos Santos. Praia do Camburi, Ubatuba, em 01 de abril de 2007
Participantes: José Ronaldo e Jairo Felipe. Estevan José, o meu filho, nos acompanhou.
O método adotado foi de deixar o seo Genésio falar a vontade, passar por onde quisesse. De vez em quando havia alguma especulação sobre algum tema, mas sem constrangimento ao bondoso e aguerrido caiçara. A conversa se deu logo após uma reunião ocorrida na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, onde se discutiu mais uma vez a questão do Parque Estadual da Serra do Mar e as interferências na comunidade caiçara do Camburi. Tente ser fiel ao máximo às expressões, inclusive na característica do falar caiçara de reforçar o que acabou de falar.
Parte 1. “O meu pai dizia que eu não vi nada. Eu já vi algumas coisas, mas o meu pai falava que eu não vi nada. Que eu não vi nada. E é verdade! E vocês, que tão vivendo hoje, começam logo a ver e a turma dão risada. Eu digo assim: começa logo dentro da saúde. Dentro da saúde, hoje! Eu digo pra turma que hoje nasce bichado. Minha sobrinhada, hoje, que nasceu nasceu, mas nasceu bichado. Sabe por causa de quê, meu amigo? Por que, nas muitas vezes, tem a natureza dos pais e a natureza das mães. Então, o senhor vê: essa mocidade hoje que tão nesse vício da cocaína, do crack, da maconha... O senhor vê: quando vem a família... como é que vem isso aí? É muitas mulheres, muitas moças que também tão na droga, bebendo tudo... tudo... Vem a família e já vem contaminado. As vezes eu falo nisso e eles dão risada. Não; você pode escrever que é isso mesmo. É isso mesmo! É que nem esse médico, né? Eu achei interessante, muito brincalhão esse médico de São José [dos Campos] que eu estou tratando com ele. Muito brincalhão mesmo! Aí, conversa vai conversa vem..  agora, no dia vinte e quatro do mês de abril, eu tenho outro encontro com ele... então ele disse agora, passou o remédio e tudo e disse: 'Na volta, que  você vier aqui, Genésio, eu vou passar um remédio pro senhor que é pro senhor ficar purinho, hein!? Era pra ter passado esse remédio, mas o senhor pode arrumar outra mulher'. Eu disse assim: doutor vem cá, um carcará, um pinhé da minha marca, com essa minha idade, o senhor acha que eu ainda vou arrumar mulher? Eu já tenho uma em casa, vou arrumar outra mulher? 'Mas com o remédio que eu vou passar para o senhor, o senhor vai arrumar outra mulher. Eu não quero que o senhor  não arrume outra mulher'. Muito brincalhão! Aí, conversa vai conversa vem... eu contando alguma coisa, então... fiz uma pergunta para ele: doutor, eu não estou para fazer essa pergunta assim para o senhor. Eu digo assim: doutor, o que é que de manhã tá de quatro. De manhã tá de quatro. Meio-dia está de dois e à tarde tá de três?”


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