quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

“Lá vem o Ico”



                O nome dele, de batismo e no papel, é Celso. Só que sempre foi chamado de Ico. É muito parecido com o causo do Lelê (conto depois para quem não conhece). Por derivação similar: “o nome é Ico e o apelido é Celso”.

                O Ico andava em ritmo de urubu calmo, se sacudindo pesadamente um pouco para cada lado, sempre cumprimentando calmamente com um simples "oi". Seus olhos apertadinhos davam-lhe a aparência de sono constante. Os cabelos, espichados diariamente, pareciam uma moita de capiá em flor. Era namorador porque se achava bonito. Ah! Também nunca faltava nas peladas de final de tarde na praia. E corria!

                Para o trabalho, Ico era muito lento. Só um patrão calmo como o seo Carlos para ter paciência com o Ico. Isto eu escutei de sua mãe, dona Benedita: “O seo Carlos é um santo. Agradeço a Deus por ele manter o meu filho empregado”.

                Nas manhãs de segunda-feira, quando uma parte dos homens da praia estava em ressaca, era comum escutar: “hoje todo mundo tá Ico”. Para esses, só depois do almoço as coisas começavam a engrenar. Porém, para o Ico, chovesse ou fizesse sol, o ritmo era o mesmo. Só mesmo o futebol para revelar o outro Ico. É deste que eu conto até 1980 porque mudei de lugar, viajei, morei em terras que não cheiravam à maresia.

                Em 1990, em plena Praça da Sé, escutando a arenga de um vendedor de “uma pomada maravilhosa feita da banha de peixe-boi da Amazônia”, quem eu encontrei?  O Ico! Isso mesmo! Deu-me um forte abraço. Ficamos contentes pelo reencontro tão longe no tempo e do nosso lugar de origem. Depois, saboreando umas cervejas com torresmos, fiquei sabendo da novidade: Ico trabalhava na USP (Universidade de São Paulo), num departamento do Instituto Oceanográfico: “Agora estou por dentro de uma pesquisa sobre polvos. Tem até um deles que o pessoal apelidou de Ico porque é muito sossegado. Tem momentos que até me embaraço quando dizem: ‘lá vem o Ico’. Não sei se falam de mim ou do polvo”.

                Após o reencontro acidental, outras vezes nos encontramos para prosear. Fazia bem para ambos. Eu, naturalmente, sempre chegava primeiro nos combinados. Esperava, esperava... Até que lá vinha o Ico. Só bem perto, levantando a palma da mão, tal qual alguns "índios americanos", ele dizia: "Oi Zé!"

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