terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Há de sobejá

Caiçarinha na totoa de pati - Arquivo Olympio Mendonça - Ubatumirim,1978
              
                Arreparei na cumeera, junto da rija jiçara e da travessa de jacatirão, onde de tudo tinha um cuí: desde gamela até bassora de pena de pato (para barrê a parede do forno). Precurava o rodo, pois havia lasca de canevetero, de imbaúba e de tinticuia, junto com bagaço seco, estalando desde a boca do forno.
                No cocho, o tipiti cedia lugá pra uma massa quase seca adespois da prensagem no fuso a noite toda. A arataca foi abandonada. Não era cedo, mas também não era tarde; havia tempo para um gorpe de pinga ou um café intirume. Mas tinha muito que fazê. Era a metade da farinhada às meia. Ainda restava amorná, muchá e torrá a massa.  Adespois, da goma da gamela, saía o bolo e o biju; por úrtimo ficava a quirera (que era a fiapada da mandioca): ela servia de comida para a criação (pato, galinha e mais arguma otra coisa que andasse no terrero).
                A casa de farinha era de pau a pique. O sapê da cobertura ainda aturava deiz ano. No arredó tinha de tudo quanto é arve: laranja da china, mixiriquera, bordo, goiabera e até um pé de araticum de onde vinha um canto de sabiá cica. Fora disso, no só arto, a barulhera era de cigarra. Estorava de cantá.
                Tinha o terrero. Adespois era só cisquero a brotá inhame e taiaioba entre resto de marisco, preguaí e saquaritá. Também era o espaço do jambo marelo, da buticaba, da pinha e da fartura de bananera.
                De onde principei dizendo? Não era meu querê essa lonjura! Só ia dizê um cuí do tempo d’ante, quando ninguém queria se apossá de nada. A felicidade estava no pixé, na banana assada, na bentrecha seca com café amargo, no escardado de garopa, de jangolengo ou de quarquer outro da pedra. Nunca fartava farinha fresca, pimenta malagueta e banana santumé. Ou quando não, nanica.
                Do mundé, da arapuca, do cumbu, do laço no carrero dos bicho... Se proveitava desde úrico até tatu. Tudo que dava pra mais de um dia, ia pro juréu secá. Ou saprezava na gamela. Quase ninguém carecia de nada. A certeza era uma só: há de sobejá.

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