segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Entrevista no Camburi (III)

Uma visão da cachoeira da Escada, no Camburi

“O meu nome é Genésio dos Santos. Nascido e criado aqui no bairro do Camburi. Permaneço aqui. Agora, a data do nascimento... Eu hoje tô com oitenta anos [em 2007]; eu sou de vinte e cinco de março. Então, faz as contas pra ver se tá certo. Oitenta, né?"
J.R.: Vocês sempre moraram aqui mesmo (relativamente longe da praia, no morro) ou moravam mais para baixo?
Genésio: "Aqui, onde o senhor está hoje, não. Eu morava mais pra baixo, ali no Jambeiro, né? Na beirada do rio, no Jambeiro. Tá com poucos tempos aqui, né?"
J.R.: E sobre a história, contada na outra vez, de quem começou aqui foi uma escrava?
Genésio: "É; nós aqui; esta pessoa que está falando com o senhor, Genésio dos Santos, nascido e criado aqui no Camburi, a minha descendência é de Inácio Basílio dos Santos. Isso enquanto ele permaneceu aqui no Camburi, né? Ele veio fugido, né? Do tempo da escravatura que laçava pessoa, pegava pessoa de qualquer jeito, judiava. Principalmente a cor negra, a parte negra como eu sou, né? Então, esse povo, no passado, era muito judiado. Demais, né? Era muito maltratado. Eles contavam que eles faziam assubir nas árvores, né? Davam tiros para ver as pessoas caírem, né? Achavam que aquilo era bonito. Então, nessa época, esse Inácio Basílio dos Santos... eles vieram para cá. Agora permanece a descendência, o povo do Camburi, o caiçara daqui do Camburi, essas duas famílias. Disso eu tenho a certeza: da família Inácio Basílio dos Santos e dona Vera Cristina.  Então, toda a descendência hoje que mora aqui no Camburi é dessas duas descendência. Não é de mais ninguém! Vera Cristina e Inácio Basílio dos Santos, que é a minha descendência. Agora... essa dona Cristina... eu acompanhei o enterro dela. Eu era criança, moleque. Eu acompanhei o enterro dela pro Ubatumirim. Aqui não tinha cemitério ainda. Lá no Ubatumirim... cento e quinze anos. Cento e quinze anos: a idade em que foi sepultada. Agora, além dela também, aqui era o esconderijo da dona Josefa. Essa dona Josefa morava no coração do Camburi, no centro da mata da serra do Camburi. E essa toca da dona Josefa permanece até hoje. É lá em cima, no centro do Camburi. Dá cinco horas de viagem pro senhor ir lá em cima caminhando, na toca da dona Josefa, e voltar aqui na praia do Camburi. Fica bem no coração do Camburi, no centro da praia, mas só que é na serra. Então, essa dona Josefa, a convivência dela era nas matas. Todo o tempo da vida, enquanto ela viveu aqui, era nas matas. Essa dona Josefa saiu dessa toca... Essa toca hoje é bem zelada, é bem caprichada; o pessoal vai lá. Eu tenho recebido aqui, agora poucos dias, agora, tá fazendo um mês, um mês e pouco, teve aqui uns estudantes que foram na toca, conveniente ao pessoal do quilombo aqui. A Andréia, a professora Andréia, acompanhou. Até as minhas netas acompanhou pra ir na toca da Josefa. Então, essa toca é hoje bem zelada, bem caprichada. Dela enxerga parte do mar, do Camburi todo. Agora, parece que não enxerga a Ponta da Trindade por causa das árvores que encobriu. A Mata Atlântica encobriu".

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